Daizen Maeda descolou do Funchal e aterrou nos golos
Há uns anos, este era um atacante japonês que passava relativamente despercebido no Marítimo. Agora, é um ponta-de-lança que tomou conta da Liga escocesa e que já teve coisas a dizer na Champions.
Uma das viagens futebolísticas de Daizen Maeda teve origem no Funchal, escala em Yokohama e destino em Glasgow - uma viagem incomum e que poucos esperariam que fizesse. À hora da escrita deste texto, o avançado japonês já marcou o 31.º golo na temporada, em 45 jogos pelo Celtic. Talvez na próxima semana o número já não esteja actualizado.
Neste sábado, Maeda ajudou o líder da Liga escocesa a vencer o Kilmarnock por 5-1, mas esse detalhe já não é notícia. A notícia é mais ampla e remete para aquilo que o japonês tinha feito entre 2016 e Janeiro de 2025 – e não eram coisas que fizessem vibrar muita gente.
Em 2020, este jogador nipónico chegou a actuar em Portugal, num empréstimo ao Marítimo. Estreou-se no 1-1 frente ao Sporting de Marcel Keizer e marcou quatro golos em 24 jogos, um registo que ia ao encontro dos que já levava até então. Sim, marcava uns golos aqui e acolá. Não, não marcava muitos.
Em Portugal, além de futebolisticamente mediano, Maeda era um rapaz tímido, telegráfico nas respostas e que andava com um tradutor de voz portátil a tiracolo – segundo chegou a contar o Record, o sucesso do aparelho era limitado.
Hoje, Maeda não precisa de tradutor. Foi Brendan Rodgers quem lhe traduziu o futebol em palavras: 彼はゴールを決める方法を知っている,que, segundo os tradutores online, é como quem diz: ele sabe marcar golos.
Saiu Furuashi
Quando descolou do Aeroporto Internacional da Madeira, Daizen Maeda era um avançado de 22 anos que não fazia muita gente saltar da cadeira no Funchal – no aeroporto, embarcou pela “porta pequena”.
Fez uma escala no Japão, marcou alguns golos nesse contexto futebolístico menor e acabou a viagem em Glasgow, assinando por um Celtic que há alguns anos vai apreciando a presença de jogadores asiáticos.
O goleador da equipa, Kyogo Furuhashi – já apresentado neste artigo –, saiu em Janeiro para o Rennes e Brendan Rodgers, treinador do Celtic, achou que Maeda poderia ser o novo ponta-de-lança, em vez de ser um ala, um segundo avançado ou um suplente frequentemente utilizado.
Até Janeiro, Maeda tinha 15 golos em 29 jogos – em teoria, isto já era, para Maeda, viver acima das suas possibilidades. Desde que Furuashi voou para França, Maeda leva 18 golos em 17 jogos.
Onde estava isto?
É curioso aquilo em que se tornou este jogador japonês. Em Portugal, não parecia ser um jogador especialmente dotado no plano técnico – e continua a não ser. Também não mostrava uma categoria superlativa no trabalho na área adversária – até porque não era por lá que jogava.
No entanto, Maeda é, agora, um avançado temível. Por um lado, tem valores de finalização muito significativos – marcou 16 golos no campeonato, mas só deveria ter marcado 13 em função dos golos esperados, o que significa que é um finalizador bastante acima da média. E isto não era suposto num jogador que se foi mostrando, ano após ano, pouco efectivo nesse labor – mais do que oportunidades, talvez lhe faltassem as melhores oportunidades, algo que veio com a colocação na posição 9.
E os golos, sendo surpreendentes por si só, são ainda mais inesperados por virem de um jogador que era, sobretudo, um trabalhador.
Disse ao Guardian que adora “fazer os defesas entrarem em pânico e roubar-lhes a bola” e isso enquadra-se no que os treinadores lhe apontam como virtudes. “Nunca vi um jogador tão físico, em matéria de velocidade e sprints sucessivos. É uma besta física. Uma máquina”, disse John Hutchinson, referindo-se à resistência e velocidade.
Mas Brendan Rodgers viu algo diferente. Agora que lhe deu a posição 9 define-o de outra forma. “Toda a gente fala dos golos e da pressão que ele faz, mas as movimentações são tremendas. A antecipação e leitura de jogo são muito boas”, apontou, sobre um jogador que continua a passar pelo corredor esquerdo, mas que é, sobretudo, um ponta-de-lança.
A Liga escocesa
O que o antigo técnico do Liverpool está a dizer é que os treinadores de Maeda – e não foram assim tão poucos – demoraram todos estes anos para ver que estava ali um avançado incansável sem bola, sagaz nas movimentações e forte a finalizar.
No fundo, não viram ali um ponta-de-lança completo – e isso inclui o próprio Rodgers, bem como Nuno Manta Santos e José Gomes.
Quem aponte que Daizen Maeda está a jogar desta forma porque está na Liga escocesa tem um argumento bastante legítimo. A tese tem, ainda assim, algumas fragilidades.
Uma delas, talvez a principal, é que Matusmoto Yamaga, Mito Hollyhock, Marítimo, Yokohama Marinos e Celtic não é um cartão-de-visita que tenha nexo quando se fala de alguém que leva 31 golos numa temporada de Liga escocesa – e quatro na Liga dos Campeões.
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